Teatro do Oprimido e educação – Entrevista com Bárbara Santos

By | 01/05/2025



Bárbara Santos fala sobre o Teatro do Oprimido e sua relação com a educação durante sessão de lançamento de seu livro …

Teatro do Oprimido e educação – Entrevista com Bárbara Santos/a>

Resumidamente, o Teatro do Oprimido é um método teatral criado pelo Augusto Boal e esse método tem como objetivo estimular o diálogo. Ou seja, como é que a gente pode através da visão crítica da sociedade, da visão crítica que a gente tem sobre o real, a gente representa esse real e a gente busca a conversa, a troca de ideias, a troca de experiências sobre esse real. Ou seja, eu vivo o real, eu olho pro real com olhos críticos, eu represento o real e eu te pergunto como é que a gente pode fazer para tornar isso mais fácil, melhor, como é que eu posso transformar esse real em uma realidade que seja mais acessível para mim, que seja melhor para minha vida. O que significa o diálogo? O diálogo significa que a gente está aberto o suficiente para escutar um ao outro, ou uma à outra no nosso caso. Então, pra eu poder te escutar eu tenho que tentar compreender o que você está falando. Então, eu vou aprender alguma coisa com isso. Mesmo que eu não concorde com você, eu entendendo o que você está falando ou a lógica do seu pensamento, eu vou entender melhor essa realidade, esse contexto. Então, o Teatro do Oprimido propõe o diálogo entre as partes na busca de alternativas para transformar o real. Então, mesmo quando se trata do meu opressor, eu tenho que tentar escutar também porque é a maneira que eu tenho de entender qual é a estratégia do opressor. Eu entendendo a estratégia do opressor, eu tenho mais chance de melhorar a minha estratégia. A gente vive em uma sociedade do monólogo, ou seja, normalmente as pessoas se encontram para intercambiar monólogo, você só tem interesse em me convencer, então você só espera o seu momento de falar, você não está me escutando. Ou eu também, da minha parte, eu tenho o meu próprio monólogo, a minha própria verdade e eu quero apresentar a minha verdade para você para te convencer. Então, a gente pode até começar a gritar porque não importa, a escuta não importa. E o Teatro do Oprimido ele pressupõe a escuta, é necessária a escuta. É necessária a escuta para que a gente possa elaborar as estratégias de transformação do real. O que isso tem a ver com a educação? Isso tem a ver, por exemplo, eu, particularmente, sou socióloga de formação e fui professora do município do Rio de Janeiro. Então, eu conheci o Teatro do Oprimido quando eu ainda estava na sala de aula. Eu conheci o Teatro do Oprimido como uma ferramenta de trabalho. A gente usou o Teatro do Oprimido para colocar temas em discussão, temas em debate. E a história do Teatro do Oprimido é uma história muito relacionada com a educação, até nos seus primórdios porque o Teatro do Oprimido tem uma relação muito profunda com a pedagogia do oprimido. Ao mesmo tempo que o Paulo Freire estava dizendo “olha, as pessoas precisam ser alfabetizadas a partir da leitura que elas fazem do mundo, não adianta só aprender a palavra, eu tenho que aprender o mundo para eu entender o que essa palavra significa e eu poder usar essa palavra a meu favor”, o Augusto Boal estava fazendo a mesma coisa. Era a alfabetização política das pessoas, ou seja, eu tenho que aprender o que significa esse real pra eu poder como cidadão intervir nesse real. Então, através do teatro, o teatro é minha maneira de representar o real, é a minha maneira de criar a minha própria narrativa sobre o real e colocar o real em discussão. Então, a gente tem que conhecer o real para transformá-lo. Então, quer dizer, a origem do Teatro do Oprimido é uma origem muito conectada com toda a reflexão da pedagogia do oprimido. E o desenvolvimento é a mesma coisa. Nós trabalhamos muito, eu na minha experiência prática, com a escola, no sentido de discutir a escola, discutir como a gente poderia transformar a escola e a gente pensar poxa “vamos nos perguntar por que o nosso aluno, na nossa escola, ele vai tão mal e ele vai tão bem em outras realidades da vida”. Então, por exemplo, a gente, lá em 1990, fez uma peça sobre a história de um aluno que era péssimo na escola e ele era excelente na escola de samba. A gente achava que ele não tinha coordenação motora e ele ganhou um prêmio de melhor ritmista. Como é que um ritmista não tem coordenação motora? A escola tem essa realidade. Às vezes a gente fala assim “você não tem coordenação motora, mas você é ritmista”. Entende? A própria realidade mostra que não é possível, não é possível que esse cara não tenha coordenação motora. Ou como é que o meu aluno não aprende as quatro operações na sala de aula e ele trabalha na feira, ele vende, ele troca, ele dá troco. Como é que pode que ele não aprende na sala de aula as quatro operações? Então, a gente se perguntava coisas assim. E a gente também ser perguntava porque a gente, quando vê o fracasso escolar, a gente só olha para o outro. A gente olha para o aluno, a gente olha para a família do aluno e a gente nunca olhava para a gente também. Será que eu como professora tenho alguma coisa a ver com esse fracasso? Esse fracasso também é meu fracasso? E todos nós devemos sentar e discutir esse fracasso não como um fracasso dessa pessoa, aluno, dessa família, mas um fracasso também da sociedade? Então, quer dizer, o Teatro do Oprimido me instigou, a mim e às minhas colegas a pensarem a nossa própria práxis, a nossa própria ideia. Esse livro é fruto da minha experiência com o Teatro do Oprimido em geral, desde a origem que tem a ver com educação, mas não tem só a ver com educação. E tem a ver com educação em um sentido muito específico. Porque eu sou uma pessoa que trabalho muito formando pessoas para que essas pessoas trabalhem com o Teatro do Oprimido, ou seja, eu formo formadores. E eu queria garantir que essas pessoas que aprendem o método aprendessem também o conteúdo teórico desse método. Então, eu comecei a desenvolver uma maneira de escrever que pudesse oferecer para quem está aprendendo o método o seu conteúdo teórico, a sua filosofia, os seus princípios, o seu fundamento teórico de uma maneira que fosse a partir da práxis, ou seja, de uma maneira acessível também, quer dizer que você para aprender a teoria de alguma coisa não tenha que se afastar dessa coisa, na própria práxis você possa entender a teoria. Então, o livro também tem muito a ver com a educação de uma maneira muito mais ampla, como eu posso ajudar as pessoas a aprenderem um método, a aprenderem a práxis desse método entendendo o porquê e o para quê. Por isso que eu falo “uma teoria da práxis”. Porque toda a teoria aqui está sendo apresentada com exemplos práticos, com histórias, entende? Com contação de histórias. Então, quer dizer, acho que essas coisas estão muito relacionadas.

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