VRAU CAST: EDUCADOR JOSÉ PACHECO

By | 18/05/2025



Esse é o último episódio dessa temporada do Vrau Cast e por isso trouxemos um convidado especial diretamente da Guiana …

VRAU CAST: EDUCADOR JOSÉ PACHECO/a>

[Música] Você tá em casa aí matando aula? Então fique com a gente aqui porque tá começando mais um VRCT. Hoje a gente tá recebendo aqui o educador, antropólogo, pedagogista. Existe isso? Existe. E e criador da Escola da Ponte, José Pacheco. Bem-vindo ao vra, professor José. Bem-vindo também. Bem-vindo, José Paico. Eu queria até começar fazendo uma pergunta que certamente toda a nossa audiência também deve ter. Com certeza. Bem-vindo. Tem ifen. Se for o nome não. Nome da pessoa. Eh, se não for nome da pessoa, tem Ah, você de Portugal. Ninguém é perfeito, não é? Então, sou português. Aliás, isso já me deu. Posso contar uma pequena história? Pode. Quando vim para o Brasil, eh, calhou de eu vir em julho, mês de julho, que em Portugal é um mês mais quente, é o mês de verão. Aqui é um mês menos quente ou mais frio. Eu vi para Araraquara e com uma pequena camiseta, umas sandálias e uns gins, porque tinha saído de Portugal com muito calor. Acontece que ao fim da tarde em Araraquara faz aquele fresquinho, aquele friozinho. Senti necessidade de vestir alguma coisa quente e fui a uma loja. Entrei na loja e pedi, olhe, queria uma camisola. A jovem olhou para mim, para quem é a camisola? Assim, para mim. Bom, o resto eu não conto porque foi uma situação inusitada e que prova que realmente a língua brasileira é bem diferente da língua portuguesa. Mas eh você ficou com a camisola? Você dormiu com a camisola? Sim, porque camisola lá em Portugal não é camisola do Brasil. Lá ele lá é mais decotado, não é menos decotado. É uma um tecido de lã quente que o homem e a mulher usam quando está frio. Mas sabe para mim onde que você mais errou nessa história de ter ido para Araraquara? Talvez podia ter ido para outro lugar. Araraquara não dá. Araraquara não dá. Agora é, vamos começar o assunto aqui. A gente aqui você tem liberdade para contar as histórias que você quiser, apesar de ser uma história meio doida, mas o o senhor é muito conhecido, respeitado por ter criado a escola da ponte. Dizem aí que virou uma referência, né, de ensino e tal. Todo mundo gosta, né, quando vai eh conhece a escola, parece que gosta. Mas eu fui dar uma pesquisada. Hum. E é só uma escola que todo mundo passa sempre de ano. [ __ ] aí é fácil, né, professor? que quem não ia gostar de uma escola que todo mundo passa de ano. Aí tem um um erro de forma. Um erro de forma? Sim. Quando se fala de passagem de ano, pressupõe-se que há ano de escolaridade. Na ponte não há ano de escolaridade. Não há não há. Nem há coisa séria. Olha, porque é que tem de haver ano de escolaridade para você poder entrar na sexta série. Como é que se você entrar na sexta série sem? Claro, mas se a escola não tiver sala de aula, não tiver turma. Pera aí, pera aí, perí. Professor, a escola não tem sala de aula? Não, não precisa. Essa é um parque de diversão, ô Mike, não, não é. É um lugar onde se aprende e se aprende bem melhor do que noutras escolas. Quando me perguntam porque é que não se reprova, eu respondo porque é que se reprova? Porque é burro. Talvez seja o sistema que seja burro. Porque o ser humano não é só razão, não é só intelecto, não é só matemática e língua portuguesa. O ser humano também é afeto, emoção, estética, ética, espiritualidade, mulher, homem, tudo bem. Dinheiro também. Então nós perguntávamos porque é que tem de haver ano de escolaridade? Ninguém nos respondeu. Não há qualquer resposta. Eu posso tentar? [ __ ] Eu acho que tem ano de escolaridade para medir a inteligência das crianças. E o que é que mede a inteligência das crianças? Anota na prova. Isso é o que a escola tradicional faz. Eu vou dar outro exemplo. Eu aprendi que só se pode ser professor se se fizer perguntas e não dar respostas sem pergunta. Quando uma criança levantou o braço, eu fui junto dela e ela me diz: "Professor, tem aqui uma uma dúvida. O quê? Que aqui diz que o ser vivo, o ser vivo é o que nasce, cresce, reproduz e morre". Eu olhei para ele, fiquei encantado porque eu era professor de sala de aula, eu dava aula e dava bem, bom planejamento. OK? Então eu perguntei: "Mas qual é a dúvida?" Porque eu todos os anos dava esse conteúdo, o ser vivo, punha no quadro, ser vivo, dois pontos é o que nasce, cresce, reproduz e morre. Ah, você era professor de biologia de ciência? Não, naquela altura estava no fundamental do eu perguntei: "Qual é a dúvida?" Ele disse: "Eu não concordo com isto. Não concordas porquê?" Vai ter de um zero para ele. Não, não dei zero. Eu aprendi com ele, vou-te contar. É que eu perguntei porque é que ele discordava. Ele disse: "Olha, professor, pensa um pouco". E provocou o senhor, hein? Logo, pensa um pouco. Já, já é complicado. Ele disse-me assim: "Se ser vivo é o que nasce, cresce, reproduz e morre, então não sou um ser vivo, porque não reproduziu ainda. Ainda não se reproduziu, nem morreu. Eu olhei para ele, disse: "Ai, parta, como é que eu nunca pensei isso?" Porque não faz sentido nenhum. O garoto é pequeno, como é que ele ia morrer? É, pois é, é pequeno, mas só os loucos e as crianças falam verdade. Então, eh, professor, só para voltar no negócio aí que você, eu já vi que se a gente dar um negócio para ele, ele vai embora, né, professor, né, professor? É, é. É que essa coisa que você falou aí da de não ter série, mas como é que você vai botar uma criança de 10 anos com uma criança de 15 anos no mesmo lugar ou de 15 anos vai meter a porrada na de 10? É, mas o colégioa que eu estudei no Rio de Janeiro, era assim. As pessoas repetiam em outras escolas, iam lá pro AquGu para fazer a quinta série e aí todo mundo se encontrava. O mais eh novo da minha turma tinha 16 anos na quinta série. O que é uma escola? Escolas são pessoas. Escolas são pessoas. Mas escola também é um lugar. Também é um lugar onde se pode aprender. Masant sala de aula não se aprende nada. Absolutamente nada. Eu também acho. Achas? Numa sala de aula não se aprende nada. Mas por que que a gente ficou então 16 anos dentro da escola? Quer dizer, eu fiquei mais 20, deixa-me, deixa-me completar. O que eu estava a dizer é que nos projetos em que eu participo e que são os melhores em termos, digamos, académicos e de inclusão social e tudo mais, são os melhores. Eu detesto falar dos melhores, porque quero que todos sejam os melhores, mas nesses projetos tanto aprende uma criança que está no útero aos 6 meses de idade, como um velho noite. Eu vou dar duas dois exemplos. Um dia um velhote me pediu para eu ensinar um velhote. Um velhinho. Velhote tipo é tipo camisola. É só velho, né? É um velhinho como eu. E mas só ele tinha 92 anos. Era bem velhote. Bem velhote. Ele me pede para eu ensinar ler. Já tinha morrido que tava falando com você. Não sei. Vamos ver aí. Ele me pediu para eu ensinar a ler e eu disse ele como é que é? Pera aí. Ele ele não sabia ler com 90 com 92 e tinha andado no EJA e tudo isso. Eu perguntei: "Mas por que é que eu quero? Ah, que eu sou testemunha de Jeová. E o pastor lá no culto, ele lê os livros sagrados, penso que ele anda a inventar. Eu quero saber se é verdade. Eu já andei no Não é já. Então o que é que eu fiz? Mas é os 92 anos que o cara foi descobrir isso. É verdade. Não, que encontrou alguém que poderia ajudar e vai aprender a ler. De repente, o cara não tá nem enxergando. Professor, tá bom, mas agora vou acabar de contar. Eh, o que eu fiz naquela altura não havia internet, não havia nada. Eu gravei, gravei uma cassete que é uma coisinha do Gravou a cassete. Cassete. Calma, cara. É uma fita. Era uma fita. Com o primeiro capítulo da Bíblia, no princípio era ofertou o Gênesis. E levei-lhe a Bíblia e carreguei no play. Ele começava a ouvir e por analogia fonética ele ia com o dedo. Aprendeu a ler em dois meses. Uau. Uau. Pois é. Porque um cara de 92 anos. Se ele fosse aprender em 10 anos, o cara não ia não ia servir. Então vou dar outro exemplo outro exemplo para vocês entenderes melhor. Uma senhora 32 anos. 32. Uma moça. Uma moço? Sim. Mas já tinha a filha lá na escola. Moçolotes. Uma moçolota. É, não conhecia esse termo. Vou vou ganhar o dia com moçolota. Moçolota. Ela já tinha uma filha na sua escola. Tinha. Ela veio ter comigo. Ó professor, ensine-me a ler. Você ensinou a minha filha. Ela já tinha andado em duas escolas. Eu não sabia ler, agora veio para aqui em três meses aprendeu a ler. Aprende porque nós temos maneiras diferentes, não é? Respeitamos o direito à educação. Pá, pá, pá, pá, pá. E ela, eu, mas eu perguntei por é que quer aprender? Ela disse: "É o meu marido". Assim, marido é chega tarde agora 1 da manhã. Eu pergunto, maridinho, como é que é? Ele: "Eu estou a trabalhar." Diz ela. Eu ando desconfiada. Se eu soubesse ler os papéis que ele tem no bolso do Paletó, eu tirava a língua. Eu disse: "Pode trazer um papel?" Isso, professor. É verdade. Ela trouxe, ela aprendeu a ler com aquele papel. Aprendeu a ler em dois meses. Separou-se no terceiro mês. Separou-se no terceiro mês. O senhor E o senhor era o quê? Era, era me era me encontre da tarde. Não, que leitura, como diria o nosso grande Paulo Freire, é, ela é leitura do mundo. É leitura do mundo. É leitura crítica. OK. E como na minha escola não há um palrador dentro de uma sala eh incutir muitas vezes falsa informação, como foi o caso do ser vivo, não. Nós escutamos as pessoas o que elas perguntam, o que é que elas querem, construímos roteiros de estudo, fazemos pesquisa, produzimos informação, passamos ao conhecimento e o resto téc Mas aí você tem que saber o de cada criança, né? Isso dá muito trabalho, não é melhor? Não, não dá trabalho nenhum. Depende da organização. Repara, eu estou a falar de trabalho de equipe. Trabalho de equipe. Na minha escola não há professor sozinho em sala de aula. Professor sozinho em sala de aula, professor solitário é do século XVI, da Prússia Militar. Mas como é que ia ter professor sozinho na sua sala de aula se tem uns moleques de 16, 17 anos junto? Ia juntar o professor na porrada? Tem moleques de 40 anos, 50 anos, moleques de 4 anos? Por que não? Na mesma sala. Um moleque de quatro, de 50. Olha, olha lá lá, lá em tua casa. E e como é que é a relação deles? Vai lá ver a tua casa. Em tua casa, tu tens um espaço para até aos 4 anos e espaço para os avós e espaço para os pais. Separado. Não tens lá em casa. O teu banheiro não é o banheiro do teu pai e do teu filho. Porque é que na escola não é o mesmo? O senhor tá fazendo perguntas para mim? Estou a fazer perguntas. Eu não tenho uma casa própria. Eu moro com a minha mãe. Então, pronto. Na casa onde tu moras, o banheiro da tua mãe não é o banheiro que tu tens também? É um o banheiro da mãe dele é um banheiro até que eu uso, cara. Não, brother, não precisa saber disso. É um banheiro que é porque ele foi o que ele quis dizer que todo mundo usa o mesmo banheiro. É isso que eu sim. na na casa lá. Mas professor, eu acho que você tá esquecendo uma coisa, só para voltar na coisa do repetente, que muito importante, que é o seguinte: você também um repetente eh numa sala de aula, aquela turma ali, ela perde a credibilidade, por exemplo, nos esportes, porque todo toda a escola eh boa em esporte tinha um repetente ali na na quinta série, que era o maior, o melhor, entendeu? Mas a turma dele, Mike, é uma loucura, porque a turma dele é, por exemplo, o vôlei tem um menino de 4 anos e outro de 50, os dois na rede. Não, o problema o problema é quando o de o de quatro vai sacar, né? Exatamente. É um problema. Realmente o quadro é mais pequenino. Bom, eh, vou-te dizer, vou-te dar a resposta. Eu estou a falar de uma nova construção social de aprendizagem e educação, onde a escola não é o prédio, escolas são pessoas e os seus valores e os seus princípios e o seu território e as suas necessidades e o seu potencial. Estou a falar de tudo isto muito rapidamente, mas aluno repetente é, por exemplo, o domingo sem pescoço. Domingo sem pescoço. Domingo sem pescoço. É, era o que eles chamavam. Domingo é uma pessoa era uma criança sem pescoço. Sem pescoço porque era muito baixinho, muito atarradinho. E as pessoas têm tendência para dar nomes às nomes, não é? Então ele chegou um dia à escola, eh, e eu percebi que ele tinha uma história que levava à conclusão de que ele já tinha reprovado quatro vezes. H tinhaado entrado aos seis, tinha 10 anos, não sabia ler, nem escrever, nem nada, sabia ler mal e escrever mal. Aí eu fui recebê-lo, ele estava assim como quem quer ir ao banheiro, não é? Eu perguntei: "Ah, ó meu menino, tu queres ir ao banheiro?" Ele olhou para mim: "Ó chefe, [ __ ] onde é que se mija?" "Foda-se". E xingou, eu xingou assim, calma. Olha, ele é tal, ele foi. Só que esse miúdo, essa criança, ela tinha passado por situações escolares terríveis de reprovação sucessiva, mas também tinha passado por recusas de adoção sucessivas, ou seja, tinha sido abandonado pelos pais, tá, tá, tal, era uma história muito confusa. Então, o que é que nós precisamos fazer com ele? dá-lhe a oportunidade dele perceber que a escola não é uma competição, que uma escola é solidariedade, é cooperação, é interajuda, é aprendizagem com o outro. A autonomia é isso, é eu aprender com o outro. Um dia eu passei pelo grupo onde ele estava e os os jovens que estavam com ele disseram: "Olá, aqui nós temos um dispositivo que é o acho bem e o acho mal". Eu acho mal quando tem muitas queixas de uma pessoa. Todos nós padecemos porque lá a responsabilidade é de todos. Eu sou responsável por ti, por ti e tu por nós. É sim. Não não há diferenças. Há uma diferença, mas a diferença é respeitada. Então eu ouvi falar assim: "Ó Blado, Binos, tu dizes tanto impropério, tanto palavrão que qualquer dia não acho mal, tu vais para tribunal." asanças tinham feito um tribunal porque o ser humano ainda está na na protohistória da humanidade, ainda precisa de tribunais, ainda precisa de julgamentos, ainda precisa de prisões, ainda precisa de guerras. Ainda estamos nessa fase porque o sistema educativo levou a isso também. Mas não é só o sistema educativo levou as guerras, levou cortezinho. A Maria Montessória falava isso, ó. Então a gente tem o cortezinho que a Maria Montessória é aquela que é contra o celular, não? Aliás, eu sou a favor do celular. nas minhas turmas, nas turmas da minha escola, é obrigatório celular porque é um instrumento de pesquisa, não se deve proibir, deve-se educar o consumo, que é outra coisa. Mas isso, deixa lá, deixa-me acabar a história. Então, o que é que o Domingues faz? O que o grupo mandou pôr os palavrões todos e à frente no vê se tem no dicionário. Se não tiver no dicionário, ele não pode dizer. Ele aceitou o jogo e foi ver o primeiro palavrão. [ __ ] que pariu. Não, cagar. Estava no alfabética. Cagar, cagar. Brasil, mas el lá era, ela era. Enfim, também não sabe por foi a ao dicionário não encontrou. Não tem cagar no dicionário português. E como é que vocês fazem? Um defeito lá não caga. Então cagam, mas não tem no adicionar. Ah tá. Então o que ele faz? O grupo diz vai haver no de no dear. Ele foi ver no dear. E no deficar ele viu que era expelir as fezes pelos anos. Ele perguntou aos colegas: "Olha lá, as fezes é a merda. É a merda. O anos é o cu. É o cu". Então pronto, o que é que ele faz? corta o cagar e põe à frente de focar. E foi fazendo isso, mijar, urinar, tá, tal, t tal vai tomar no anos que ele começou a falar isso. Não, mas vais ver o que é que ele escreveu no Acho mal. Ele foi, eu acho mal e escreveu isto. Eu acho mal que os meninos desta escola vão ao banheiro, vírgula, defequem o beb de fecar e deixem o vaso todo cagado. Estás a ver que ainda estava entre o vernáculo h e a linguagem própria. Vernáculo. Vernáculo. Bom, depois se quiseres adicionar também. Eh, o que eu quero dizer é que quando nós recebemos alguém, não vamos reprovar. Nunca sem saber quem é essa pessoa. Eu até tinha esquecido que a gente tá falando de reprovação. Não, a gente tá falando do Domingos Pescoço. Ele conseguiu pescoço. É, esse era o nome que lhe davam. Mas há também o Justino Menopausa. Outro causa. Outro Justino Menopausa. Menopausa. Uma criança chamada Justino Menopausa. Não se chamava menopausa. Menopausa era o nome que lhe davam. Porquê? Ele foi para uma escolinha. É muito sério. Eu não, desculpe, senor. Não, tá tudo bem. Ele foi para uma escolinha onde nas reuniões de pais havia uma mãe que tinha o cabelo branco, era a mãe dele porque pensava que já tinha passado a menopausa e teve um filho aos 53 anos de idade. Foi ele. Então as pessoas começavam: "Ah, ele é o monogino menopausa." Ele interiorizou aquilo, saiu daquela escola, veio para a ponte e na ponte acho que não vou contar a história, só vos vou dizer que deixou de ser Justino menopausa para ser um ser humano respeitado. Eu possoar uma história muito triste, muito triste. Posso contar? Muito triste. Podes contar. Posso. Fodiu. Acho que aqui Mas podemme perguntar sempre que quiseres, porque é a história que é o limite. A história que é o limite. Tá. Eu fui para uma escola brasileira. Brasileira ou brasileira que se queixava de que jovens que chegavam ao fim de uma semana iam embora ou ao fim de 15 dias maltratavam professor ou faziam a prova e tiravam zero e tal. Reprova. Toda a escola brasileira. É, é o Aquiga é isso. Era o Aquiga que estava a escola. Não, não, aqui no Brasil as escolas. Mas o Aquiga é aqui no Brasil. Então é isso. Acontece que eu estava lá nessa escola e chega um jovem com um 38 metido aqui atrás. Não, um revólver. Sim, sim, sim. Minha filha. Ah, não vou dizer onde é porque, infelizmente, há muitos lugares assim. E os funcionários fugiram, fui ter com ele, consegui que ele se sentasse, conversei um pouquinho com ele. Você conversou com o menino armado? Sim. Você tava armado também? Eu não. Ah, que eu estava estava armado. Eu estava armado de algum conhecimento no campo da educação. Mas isso é não não usem armas, usem livros. É uma prática e e que estamos no mundo é para servir o outro. Então, quando eu lhe pergunto, porque é que você tá assim zangzangado? Ele não disse o que ia fazer. Disse: "É que eu hoje nem tomei banho, porque quando há falta de água, a comunidade é a primeira a ser". Pois é, mas porque é que tu não poupas água da chuva e quando não, não, não, eu vou vou ao à cidade, vamos queimar dois ou três ónnibus. Sim, mas vais durante a vida queimar quantos ónnibus para ter água em casa? Ele, mas como é que é isso da chuva? Pronto, posso dizer que ele hoje, isto foi há 12 ou 13 ou 14 anos, hoje tá preso, não, ele é engenheiro hidráulico, fez criou duas empresas de construção de cisternas de recolha de água de chuva, faz irrigação de horta comunitária e emprega nos entre os seus funcionários síndrome da oniparalesia cerebral. Mas armado é mole, né, professor? O cara chega armado, fala assim: "Vou fazer teu encanamento." Você v falar assim: "Então faz, meu amigo, eu nasci numa favela, morri a gente todos os dias mortas por ciganos. Eu sei o que é fome. Sim, sei o que é fome, pai na prisão e mãe morta. Eu sei muito bem como se vive nas favelas, tá bom? Trabalho desde 4 anos, mãos em sangue, para que fique sabendo, só para explicar que eu entendi quem era aquele jovem. E o que é que aconteceu? Ele começou a ir lá ver como é que era a água da chuva e tal. Entrou na física, na matemática, na história, geografia, tudo mais. E aconteceu algo que eu vos vou rapidamente contar. Um dia eu chego e dizem-me: "Olhe, o Maon hoje tá terrível, tá-me bater em toda a gente." Eu fui Maicon, eu agarrei por trás, ele tentou fugir, deu-me cotoveladas, fui fugindo, até pá, partiu-me os óculos, atirou pelo ar, abriu-me um lanho aqui, eu fiquei muito irritado, mandei todo o mundo embora, virei para mim, sentei-me no chão. Aos 5 anos, aquele Michael estava no barraco, chegou a um carro da polícia com policiais com fuzil. A mãe defrontou os polícias, morreu em cima dele, uma bala traspassou-lo. A mãe furou-lhe um pulmão, foi para o hospital, saiu do hospital, foi para casa de uma vizinha que cu quejo marido, companheiro, era alcólatra. Um dia chegou muito bêbado, pegou na cabeça do Michael, bateu contra uma parede, mandou em coma para o hospital meio ano entre a vida e a morte com sequelas terríveis aos 5 anos de idade e a escola não sabia disso. E a escola reprovava e a escola abandonava. Aí passado um bocado, olhou à volta, viu que não estava ninguém, olhou para mim, deu um sorriso e disse: "Tio, eu posso fazer uma pergunta?" Porque foi quando eu chorei, o tio também chorou? Ele foi meu tuturorado durante meio ano, até que eu precisei de ir para outra escola, que eu faço voluntariado em muitas escolas, gratuito. E quando eu fui para outra escola, eu perguntei às professoras: "Quem é que fica com Maicon?" E uma professora levantou o braço, "Eu posso ficar como tutora do Maicon?" Eu perguntei por curiosidade, porque é que tu queres ficar, doutora? Ela deu um sorriso e disse: "Eu quero ajudar o Maon. Porque foi o Maicon, professor, e os amigos do Maicon, quem matou o meu filho. Ó meus amigos, um país que tem professoras que querem salvar a vida e ajudar de quem matou o filho é um país com futuro. Só que neste sistema de ensino nunca mais. Porque o tom que eu utilizo porque tô velho e me emociono. Assim, pelo menos você não tá armado, né? Imagino. Estou muito armado. Conhecimento não, ignorância. Eu espero aprender muito até o fim da vida. Então, deixa eu te fazer uma pergunta. Eh, só voltando aqui, eh, eh, porque você falou aí, tudo bem, que eh eh não passa, não tem, não tem turma, voltando na coisa da escola da ponte lá. Mas por que que uma criança vai estudar se ela já sabe que ela vai passar de ano? Professor, não é ano. Olha, quando os inspetores, ela vai querer só ficar jogando bola. Fica. Vai lá, vai lá ver ela jogar a bola. Qualquer criança com seis, com seis ou sete ou 8 anos. Eu tô gostando do senhor, quando o Mike vê, tu mandou: "Vai lá ver, vai lá ver". Mas eu não tenho como ver. Você faz isso porque você não quer contar o que você tá falando. Eu fiz um livrinho agora que se chama Porque não há mais escolas com a escola da ponta. Esse livrinho, tua causa, minha causa. Mas eu não vejo nada. É porque quando tu fazes perguntas e eu te devolvo a pergunta, por exemplo, se tu diser porque é que não se reprova, eu volto a pergunta para ti. Porque é que se tem de reprovar? O que é reprovação? O que é uma nota? O que é que uma prova e prova não prova nada? Uma prova não prova nada, absolutamente nada. a não ser a capacidade de tu reteres informação na memória de curto prazo, de evitar num papel ou no computador e passado um ano faz a mesma prova, já não sabes nada. Queres ver? Sabes fazer raiz quadrada, não sabes? É, eu nem sabia na época. Pois. E qu tiveste aula sobre rais quadrada, mas a a maior parte das pessoas aprendeu. Não aprendeu, fez prova, né? Aprendeu porquê? Quantas vezes é que precisaste de raiz quadrada na tua vida? Nunca. Eu nunca encontrei ninguém que precisasse. Então, para que é que está no currículo? Hã? Se eu precisar de aprender a respondar, professor, pô, vou agora, eu gostei. E não ensina várias coisas que você tem que usar na vida. Por exemplo, abordagem eh com mulheres, né? Não tem aula disso. Não tem. E deve ter de mulheres e homens, lógico. Sim. Sim. Por é o domínio do afetivo emocional. Totalmente. E eu eu é isso. Por exemplo, hoje eu chego na frente de mulheres e eu fico muito nervoso. Agora, uma pergunta que eu faço pro senhor. Não tem prova. Não tem prova. Entendo. Isso. Beleza. Tem avaliação. Avaliação. Mas como é que faz para entrar na na como é que se matricula? É com uma avaliação. Como que entra? Olha, eh a pergunta que eu deveria fazer-te, mas vou responder seria uma pergunta também. Porque é que há prova de acesso à universidade? Porque é que há Enem? O Enem não havia. O que que é o Enem? Boa. Porque é que é o Enem? Porque é que há? Porque há um cursinho e porque o cursinho tem de ganhar dinheiro e porque há mercantilização da escola pública e porque há sucativamente de escola pública e porque há um ensino superior. Haverá algum ensino inferior? Mas se todo mundo passasse, como é que estudar? Onde? Não há passagem, há aprendizagem. Eu pergunto muitas vezes, porque é que há ensino superior? Por alguém sabe por é para formar profissionais. Não, não é isso. Porque é que existe? Por quê? Sim. Porque é que há segmentação entre fundamental um, fundamental dois, ensino ensino superior? No um você aprende a a fazer prédio, no outro você aprende a cirurgia e no e na escola você não aprende nada. Não aprende. Tá bom. Então vai lá ver. Vai lá ver como Vou dar um exemplo. Vou dar um exemplo. Eh, como se aprende? Como se aprende? Pressupõe-se, por exemplo, que uma rapper eh surge e quando já tem os 15, 16, 17, 18, que começa a preparar-se para como adulto ser uma rapper, uma cantora de rapper. Cantora. Teu cantor. Nós acolhemos uma jovem de 9 anos na escola onde eu estava no Brasil. Não vou dizer o nome, não vale, ou melhor, vou dizer o nome. Escola do projeto âncora, cotia, periferia de São Paulo. OK, vamos lá. Projeto Anâncora recebe, recebe uma jovem. Eu pergunto-lhe: "O que é que tu queres ser?" Não é quando for grande. Perguntar quando for grande é um xingamento. Criança é não vai ser. E nós agora que estamos a um tempo daqui por algum tempo, a maior parte das profissões já desapareceu, não pod temos que ser eh eh que digamos designers nós próprios e preparados para várias atividades. Então eu perguntei o que é que queres ser naquele momento? Ela me disse: "Olhe, na na minha comunidade, mas se uma criança falar que quer ser médica, professor, naquele momento, como é que vai fazer? Na escola dele pode, vai vai ser médico. Você vai botar ela para operar alguém?" Claro, claro. Com 12 aninhos. Não é com 12. Ela vai operar quando tiver competência e idade emocional para o fazer. Eh, mas aí a rapper viu a rapper? A rapper. Eu pergunto-lhe o que é que tu queres ser. E ela: "Na minha comunidade há gente muito boa, não há só bandido, sabe? Sim, eu sei. Eu não lhe disse que eu nasci numa, não é? Eh, numa comunidade, eu quero mostrar que há coisa muito boa, tal, como eu quero ser rapper?" Eu perguntei-lhe: "Eu posso-te ajudar a ser rapper?" E ela olhou para mim como quem olha para um extraterrestre. É, é, professor. Eu também achei que você abusou. Não, não. Ó tio, você é mesmo professor, tio? Eu disse: "Sou e quero-me ajudar a ser rpper também". E há muito mais gente, muito mais gente. Aos 9 anos ela sabia ler muito mal. Aos 13 foi participar na abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Ao lado da Carol com cá. MC Sofia tá aí. E esta foi nossa aluna. Não fui eu, foi uma equipe. Não fui eu, foi ela com um projeto de vida para ser rapper. Dá para entender? Não, mas eu chego na na casa e falo pra minha mãe: "E aí, mãe, você é rapper?" É a porrada come, professor. O maior violunista brasileiro era rapper, não? Ah, tá. Disse ao pai quando tinha 12, 13 anos que não queria ir mais à escola, não queria aprender. E o pai disse: "O que é que tu queres ser?" violonista. Eu não digo o nome, digo e Amando Costa. É, pode dizer tem que dizer todos os nomes. Não, e to, mas é a técnica dele. Toda vez que ele fala que ele não vai falar o nome, ele fala. Pronto, porque é preciso que percebam que é real. Aí Amandu e o pai disse: "O que é que tu queres ser?" Ele tocar violão. Pronto. Para que é que ele tinha de de aprender a raiz quadrada e o rai que o Espartam? Se ele queria era tocar violão, se eu quiser, mas como é que ele ia sustentar a casa tocando violão? Ol, mas ele toca mal, ele toca bem. Não, [ __ ] deu sorte. Todo mundo toca bem. Se for cumprido o projeto de vida da pessoa, eu tá voltar mais um exemplo. Escola da ponte agora já tinha. Baixou, baixou. De vez em quando é assim. Baixou o quê, senhor? Aqui a escola da ponte. Vamos lá. É que ele ele ele é não, mas ele é meio sensível a essas coisas espirituais. Pronto. Não baixou, não baixou, não baixou, porque senão para mim acabava aqui a entrevista. Não, não, calma. Não baixou, não baixou. Baix parava e eu embora. Então não baixou. Não baixou. Concentra. Vamos lá. Baixou. Pronto. Então, então chega um jovem, uma criança de 9 anos também, mas neste caso do género masculino. Eu lhe pergunto o que é que se passa? E uma professora trouxe-me o documento que ele acompanhava. Ele tinha 1321, aquilo que se chama síndrome town. E o documento dizia o relatório, este aluno já passou por várias escolas, tentou aprender a ler, não conseguiu, não sabe ler nem o nome dele, caramba. E nunca vai, como nunca vai aprender, dizia lá, ensiná-la apertar botões de camiseta, cadastar de sapatos. Eu fiquei bravo. Como é que se pode considerar um ser humano incapaz de aprender? Ah, porque ele é nada, ele é um ser humano. Bom, mandei arrumar o relatório e perguntei ao jovem: "O que é que tu queres ser?" Não é o que quer fazer? Quando eu pergunto a uma criança na escola, o que é que tu queres fazer? A resposta é: Eu posso posso dizer? Ele pergunta se pode perguntar. Claro, porque senão ele é expulso. Não, porque lhe acabaram com a curiosidade, que é a coisa mais importante que nós temos. Esse jovem, com ele fizemos um projeto de vida para ele ser o que ele queria. Eu queria ser goleiro. Fizemos um projeto de vida com ele. Ele aprendeu a matemática portuguesa, história, fez o fundamental, fez um um pós um profissional técnico. E quando Portugal ganhou o campeonato europeu de futebol de salão, o goleiro da seleção nacional portuguesa era o André Mesquita. tem a medalha de ouro do município e é um homem respeitado. Se tivesse numa escola tradicional, estaria a fazer joguinhos idiotas e não iria aprender sequer a ler. O direito à educação existe, está na Constituição da Federação e é para todos, está no artigo 205, 206 e na lei de Direitriz e Bases da Educação Nacional. Porque é que as escolas reprovam? Porque a escola é que produz o insucesso e a reprovação. E temos as os professores fantásticos. O Brasil tem os melhores professores e a melhor educação do mundo. Agora eu vou te fazer uma pergunta, porque aqui no Brasil existe um ditado que diz: "Quem não cola não sai da escola". Mas o senhor prega que não tem a prova na escola, então não dá para colar porque não tem prova. Então o senhor prega que todo mundo fica na escola para sempre? Não. Quando se fez um exame nacional lá em Portugal, os nossos alunos não faziam prova, que prova não prova nada, mas eles tinham que fazer uma prova. Eu ajudei-os a compreender o que era uma prova. Fiz xerox de uma prova de língua portuguesa e sentei-os lá e lhes disse: "É uma prova". Eles dis: "É só isto é". Aí eu disse: "Tem regras. Quais são?" São 50 minutos. Eles levantaram o braço, que eles têm um acordo de convivência que é pedir a palavra, não falam todos ao mesmo tempo. E eles perguntaram: "Porque é que são 50 minutos?" Eu disse: "Não sei, meu filho, já perguntei a muita gente. Ninguém sabe, é 50 porque acabou." Como alguém sabe porque é 50? Pronto. Aí eles disseram: "É só, é só é só isto que está aqui." E eu disse: "É, vós tentes que responder a perguntas de interpretação, gramática, uma composição escrit. Ó pessoaleiro da Dinamarca. Cavaleiro da Dinamarca é um grande livro da Sofia de Meliner. Como eles não têm livro didático, a escola não tem livro didático, não é preciso para nada. Computadores estão aí, a internet tá aí, os livros. Bom, eh, eles tinham tem livro também tem livros. Eles tinham lido todas as obras dos autores e tinham lido aquilo, identificaram. Olha, é uma pergunta parbava que está aqui assim que pergunta. O que foi que o cavaleiro viu ao longe? Sim. Pois. Ó professor, aqui nestas cinco linhas, eu tenho de responder o que está no primeiro parágrafo. O cavaleiro viu ao longe a presente? Não, faço uma setinha, a pessoa vai ler. Lógico. Para que é que eu estou aqui a perder tempo? Bom, mas eu vou adiante. Eu vou adiante. Professor, eu já fiz isso na prova. A galera te dá zero, zero, zero. Pronto. E não tenho nada contra nem a favor, porque é aquela escola em que tu estiveste com as regras que eles instituc Mas eu não escolhi as regras. Eu cheguei lá, as regras já estavam lá. Pois não, porque os professores que tu tiveres, certamente são ótimas pessoas, extraordinários educadores, mas são impedidos de fazer aquilo que eles querem fazer. Não, mas aí eu vou até te dar uma crítica, vou fazer uma crítica a esses professores, você tá falando que eles são bons, mas sabe o que acontecia? Quando chegava na prova e eu não sabia uma uma uma resposta, eles não podiam me ensinar. Foi loucura. E se na hora que eu mais precisava, o cara não me ajudava, não. E se eu sou amigo e vou ajudar, eu sou expulso porque fiz ele colar. Tá errado. Porque quando a prova podem trocar impressões, lógico, interajudam. Vou-te dizer de outra maneira. Quando uma criança olhou para uma pergunta que estava na prova, a pergunta era eh sei lá, qual é o rio que venha a cidade, não sei quê. E ela vá lá e vê. Ela perguntou à professora porque é que você você sabe a resposta? E a professora disse: "Sei, então para que você me pergunta se já sabe a resposta ou quando quando a criança está a fazer um desenho tem estudado com ele. Quando a criança está a fazer um desenho, essa professora chega e diz: "O que é que é isso? Sim, é Deus. Deus, mas ninguém sabe o que é quem é Deus. Quando eu acabar o desenho, você vai saber. Lógico, porque a criança é criativa, ela interroga, ela se manifesta na criatividade. Mas eu vou acabar a historinha que não acabei. Pode acabar. Eu achei que você tinha acabado uma quando não falamos da cola. Falamos da cola. Falamos da cola. Quando eles começam a fazer a prova, porque isto tem muit uma história longa, mas eu encortei quando eu digo: "Olha, pronto, não há mais perguntas, toca-te fazer a prova". Encostei-me. Eles perguntaram: "Ó pesso a fazer?" Vai trabalhar, "E a perder tempo?" Não, eu tenho de ficar aqui no dia da prova. Aí é é para ver se ninguém vai colar, né? Isso era o que te mandavam fazer. Mandavam fazer, mas eu não fazia. Aí um jovem que estava lá há pouco tempo na ponte disse: "Eu sei porque é que o pessoa fica". E os outros perguntaram: "Porquê? Que é para ninguém colar." E uma criança, minha aluna, levantou o braço e perguntou: "Ó professor, o que é colar?" Ouviram bem? O que é colar? Eu senti-me miserável naquele momento. Eu senti-me responsável por todos os professores que ficam em sala de aula desenvolvendo valores negativos, deseducando. Sabes porquê? Porque quem fica em sala de aula fica no pressuposto de que os outros são corruptos, mentirosos, falsos, vão colar. Ou seja, o professor tá calado, mas o não verbal fala mais alto que o verbal. Ele está a transmitir valores da falsidade, mentira, corrupção. Fazer prova um ato de má educação e que não resulta em nada. Porque se eu saber, quiser saber o que é a raiz quadrada, em 2 minutos eu aprendo porque eu sei aprender. E é isso que os nossos alunos aprendem. Aprenda a aprender. Quando precisam, aplicam. Mas eu te fazer uma pergunta agora. Não sei, mas como é que você sabe que o garoto sabe através de evidências de aprendizagem que são avaliações. Como é que são as avaliações que o senhor faz? A avaliação é processual, contínua, sistemática, formativa. Na lei, na lei diz que a avaliação deve ser formativa, contínua e sistemática. Eu não vou entrar em pormenores técnicos, não importa. Formativa, acho que a prova não é a prova é excludente, não é contínua, ela é periódica e não é sistemática porque ela incide apenas numa parte. Ou seja, escolas que fazem provas estão fora da lei. Querem que eu repita? Repit-se, por favor. Cortezinho. Atenção, por favor, professor, pode repetir. Eu adoro. Adoro. Escolas que apliquem prova estão fora da lei. Escolas onde se dê aula, tá fora da lei. Escola onde se dê nota, tá fora da lei. Aí, ó. Tudo fora da lei. Chupa escola. [Aplausos] Chupa. Aqui nós somos contra a escola. Eu sou a favor dis agora, professor. Mas não, mas não essa escola. Ah, tá, tá. Agora sou contra calma, ninguém baixou, tá? Vamos só, eu vou vou avançar um pouco aqui já pro segundo que é assim que na tua escola é as crianças que escolhem que elas vão estudar, não tem uma coisa assim que elas não é bem assim. Criança criança não faz o que quer. Aí tem que pesquisar direito. Aí a gente também é assim, eu não vou ler nada. Daí vocês escrevem qualquer coisa aqui, aí eu tô passando vergonha. Criança não faz o que quer. Criança quer aquilo que faz. E agora teríamos entrar. Repete, repete. Criança não faz, não faz o que quer. Criança faz aquilo que faz. Ou seja, ela atribui importância àquilo que ela procura. Por exemplo, uma criança quis saber raiz quadrada. Eu posso contar a história? Você conta história. O senhor isso é porque eu são histórias. Porque eu estou a falar de uma praxis que é prática com teoria. Não há prática sem teoria. OK? Então, uma criança estava numa escola brasileira também, a criança entrou no espaço onde eu estava. E essa escola não tem sala de aula nem turma, nem porcaria nenhuma do século XVI e X. Tem, porque nós temos alunos século XX a trabalhar com professor século XX, como se trabalhava no século XVI. Lógico, professor está aí. Então, a criança diz: "Ó, ó fulana, que era a tutora, eu acho que sei fazer ris quadrada. Eu acho que sei. Ela pedia avaliação e a professora, a doutora, pegou no no seu iPhone e colocou na câmara a gravar em vídeo para entre ela para ficar como prova de avaliação. Que aconteceu durante cerca de uma hora? Elas conversaram, eu estive escutando, só vou falar 2 minutos. Ela perguntou: "Porque é que tu estás a estudar raiz quadrada?" Ela disse: "Olha, tu lembras-te que há 15 dias atrás o meu pai me tinha pedido para ajudar, que eles fizeram uma quadra lá no na comunidade e eles não sabem pintar o lugar do penalty, eh, o lançamento do do basquet, o círculo, porque eles não se já não se lembram de como é que se faz um círculo, como é que se mede, que é um ângulo. E nós fizemos uma equipe e um projeto e e a professora disse: "Sim, eu lembro-me muito bem disso." E então nós fomos aprendendo o que era um círculo, o que era o PR ao quadrado, fomos ver com tudo isso, aprenderam em 15 dias dezenas de continentes para pintar a quadra para pôr as as sinalizações dos lugares onde cada onde o escanteio é feito, onde o lançamento é feito, etc, etc, que os pais não sabiam, eles tinham podia contratar alguém. Sim, poderia, mas não há necessidade. Então, mas aí teve que aprender isso tudo. Então, ela foi explicando tudo o que fez e tudo gravado em vídeo até que chega um momento em que ela diz: "Olha, e pode-me passar aí uma raiz quadrada porque quando eu estudei o PR quadrado 3,14, eu ligo num livro que era e fui estudar e a professora passou uma raiz quadrada de seis dígitos, por exemplo, 402.477". A criança pegou rapidamente, tá, a professora viu, mostrou para o vídeo, mandou para a plataforma digital, para o Arquivo da Criança e disse: "E agora? E agora que eu já sei fazer tudo isso, vou ajudar a minha comunidade a fazer as marcações?" Que aconteceu? uma necessidade social construir depois pesquisa e é ui se interesse-me aí eu tinha que explicar como é que se faz pesquisa, que não é ir para a internet colher fake news. Depois produziu informação, recolheu informação, comparou informação, produziu conhecimento e pôs ao serviço dos outros. Avaliar é partilhar conhecimento, é pôr saber em ação, desenvolver competências. Já vos disse que no Brasil, o Brasil é o que tem o melhor, a melhor educação do mundo e a pior também. Ah, tá. A pior, a que está no ministério é a pior de todas, mas a melhor está aí. Posso falar-vos de Lauro de Oliveira Lima, posso falar-vos de tanta gente que criou escolas, hã, que dão exemplo ao mundo, porque a Finlândia, a Finlândia é uma bosta. Coreia do Sul, Finlândia bosta. Finlândia é uma bosta. É, a educação da Finlândia é uma porcaria comparada àquilo que nós temos no Brasil e que eu acompanho. É uma porcaria. Eu não sei se se vós conheceis nomes como Anísio Teixeira. É jogador do Bangu. Não, Anísio Teixeira. Teixeiro. Anísio. Não, também não. Vou falar de Nisa Silveira também já indo dentro. Vou falar de sambista. Hã? Sambista não, dos maluquinhos do dentro. que os maiores malucos estão cá fora. Eh, vou falar de Amanda Alberto de Duque de Caxias. Estou a falar aqui do Rio, não é? Perto do Rio. Vou falar. Bom, vou parar. É porque é que você tá falando esses nomes? Porquê? Porque Anísio Teixeira foi um dos maiores teóricos, maiores educadores que o mundo já teve. E o Brasil, ele propunha escola com aquela que eu proponho já na década de 1930, há 100 anos. Quando tentou fazer isso, o que aconteceu? Teve que se refugiar em Caetité, onde tinha a casa de família. E quando o chamaram para tomar assento na Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, e ele saiu de Caetité para vir, como ele era muito incómodo para o poder, mataram-no. Mataram Anísio, foi. Então, pronto, só para dar uma ideia, só para vos dar uma ideia de que é muito perigoso ser diferente. É muito perigoso. Mataram aísio, puseram Darci no exílio, puseram Lauro na prisão, puseram Maria Nilde na prisão, puseram, querem que eu diga o resto? Como é que o se o professor brasileiro desconhece que teve heróis que foram sacrificados em nome de Nata? Porque é que eles vão ao estrangeiro quando têm dentro do país pessoas como Ruben Alves, Lauro de Oliveira Lima, que faleceram há pouco tempo. Eu escrevi vários livros sobre essa gente e é por isso que eu estou no Brasil para aprender. Quando eu vim para cá, eu vinha etnocêntrico europeu arrogante, um merdas que dizia que tinha inventado a roda da educação com a escola. Sou você que tá dizendo isso. A gente não falou eu. Sou ninguém considera aqui você. Não, mas eu era. Quando eu cheguei aqui, eu percebi que eu não sabia nada de Brasil. Aliás, o Dar Ribeiro disse nada que o Brasil é não é para amadores. E quanto mais eu conheço o Brasil entendo. E isso me dá prazer porque aprendo. O que aconteceu? Alguém me alertou. Esse alguém, um grande homem chamado Ruben Alves, com que eu convivi em casa dele, ele na minha casa em Portugal, ele foi à ponte e escreveu um livro, A escola com que sempre sonhei, que me trouxe para o Brasil. O que é que eu faço? Fui conhecer o Brasil, fui viver com os Tupinambá, fui viver com Chavante, fui viver com os Crenacos, fui viver com os Patachores do Sul da Bahia, fui viver com essa gente e aprendi que não é preciso fazer curso de pedagogia, é preciso pôr os professores a viver com essa gente, com os povos originários, para saber como é que se educa. E fui para o Chile, para para a cultura Mapucha e do sul do Brasil, que faz uma uma cultura de escola pré-colombiana, onde trabalham coisas antes do Cabral. É maravilhoso. E depois depois fui para os quilombos. Quilombro do Campinho para ti que tem a melhor feijoada do Brasil e a melhor cachaça que possam imaginar. Eu gosto muito. Depois de cachaça, então maravilha. Depois fui para os Calungas do Norte de Goiás e aprendi que é preciso uma tribo inteira para educar uma criança. É esse o negro traz para o sul. Exatamente isso. Depois fui para as para as favelas e encontrei na favela os três valores que conduzem a escola da ponte: solidariedade, responsabilidade social e autonomia. Claro que a autonomia da Fabela eu não aprovo porque é uma economia paralela, mas na Fabela há gente muito boa. E depois o que é que eu fiz? Fui saber de onde vinha esta gente toda. Mas professor, pera aí. Você tem quantos anos, professor? 74. E você fez isso quando? Olha, durante este tempo que eu que eu vivi, eu eu perco-me. Vocês fazem intervenções muito inteligentes e eu perco-me. Eh, é verdade, é verdade. Agora disse alguma coisa que E vocês ouviram isso de um professor, de um cara teoricamente inteligente. Então, então vou explicar-vos qual foi a habilidade. Um dia chegou à ponte uma um ónnibus da Féem Fé Bem com sete jovens dentro algemados. Eu vou explicar o que é que eu fiz agora quando disse que vocês eram inteligentes. Estava eu disse que vocês eram inteligentes. Ok ficaram satisfeitos. E aí a coisa muda, fica muito mais empática, não é? Então é que os jovens estavam algemados e vieram perguntar se eu podia falar com eles. Eu disse: "Eu falo com uma condição, tirar as algemas. E Aham, você é maluco, professor." É. E os policiais eram muito perigosos. Se não tirarem, não falo. Eles tiraram. Aí eles encostados ao ônibus, eu fui ter com eles e perguntei: "Querem entrar?" Eles entraram. "Querem sentar-se?" Eles sentaram. Sabem o que aconteceu? Quando eu exigi tirar as algemas, eles eu lhes devolvi autoestima e eles me devolveram com empatia, que é o princípio da relação humana. O resto eu nem vos conto que são é uma história longa, maravilhosa. Então, maravilha com professor aí falando Vracast, o melhor podcast do Brasil. Ele acabou de dizer isso que a gente é muito inteligente. Vamos tocar aqui o sinal, encerrar mais esse Vcash aí. Muito obrigado, professor José Pacheco. Obrigado, José Pacheco. Apesar do senhor não gostar, eu vou dizer você foi nota 10. Não damos nota, tá bom? Так. [Música]

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